Há algumas décadas, e ainda hoje em alguns povos, ostentar um corpo volumoso com excesso de peso, era sinônimo de opulência, força, e saúde. O tempo passou e os organismos adaptados e selecionados ao longo de séculos para poupar energia, ao se depararem com a grande disponibilidade de alimento do mundo pós-revolução industrial, passaram a acumular mais e mais “opulência”. O resultado se refletiu nas estatísticas de excesso de peso – que hoje atinge mais da metade dos brasileiros – e na obesidade que acomete um em cada cinco adultos no país. Acontece que, juntamente com a obesidade, surgem o diabetes, a hipertensão, o câncer, o infarto, o derrame e inúmeros outros graves problemas de saúde que reduzem a qualidade de vida e elevam as chances de mortalidade por diversas causas.

Os riscos inerentes ao excesso de gordura estão demonstrados em vários estudos populacionais, entre eles, um publicado na revista  Lancet Endocrinology, em junho de 2018,  e que avaliou as causas de mortalidade de mais de 3,6 milhões de pessoas e sua associação com a obesidade. A pesquisa fortaleceu o conceito de que quanto mais pesado, maiores são os riscos. Mostrou que para cada 5 pontos a mais no Índice de Massa Corporal (IMC) acima do ideal, em torno de 25, o obeso apresenta  chances 20% maiores de morrer. Homens com Obesidade mórbida (IMC>40) têm uma expectativa de vida nove anos menor do que aqueles com peso normal. Isso sem contar o impacto na qualidade de vida, nas limitações de mobilidade, nos distúrbios do sono e outras restrições que enfrentam as pessoas com graus elevados de obesidade.

Infelizmente, o arsenal de medicamentos para tratar pacientes com essa gravidade é limitado e os tratamentos conservadores, em sua maioria, não surtem o efeito desejado. Consequentemente, o que resta de alternativa para estas pessoas é o tratamento cirúrgico.

A cirurgia bariátrica vem evoluindo ao longo de décadas e transformou-se em uma ferramenta eficaz pelos seus expressivos resultados e pela sua efetiva segurança. Ao longo dos últimos 20 anos, as taxas de mortalidade da cirurgia despencaram para menos de dois casos para cada 1.000 operados. Muitos dos efeitos colaterais adversos são controlados ou minimizados com acompanhamento adequado e bons cuidados. A sensação de renascimento e resgate é tão marcante que muitos celebram a data de sua cirurgia como um novo aniversário.

Entretanto, sem qualquer razoabilidade, sempre que alguma fatalidade acontece, voltam-se os olhares e as críticas para o método. Pessoas sem formação médica, sem a capacidade de entender o balanço do risco-benefício, do fazer e do “não fazer”, demonstram preconceito.

 

FONTE: SBCBM (sociedade brasileira de cirurgia bariátrica e metabólica)